Dos dois aos doze anos, mais ou menos, você foi um iniciador por natureza. Quase sempre acordava antes dos seus pais, mexia em tudo o que não podia, perguntava sobre tudo e sobre todos e não parava de “incomodar” os outros até que alguém o fizesse calar subitamente.
Os meninos se tornavam bravos super-heróis, médicos, engenheiros, advogados, eletricistas ou cientistas antes mesmo de saber o que significava isso. As meninas, por sua vez, assumiam o instinto materno com suas brincadeiras de casinha e de boneca e isso era a coisa mais natural do mundo.
Nesse período, você vivia mergulhado num turbilhão de ideias que fluíam dos dois lados do cérebro continuamente sem se importar se aquilo valia a pena ou não. Você não tinha medo de perguntar nem de fazer alguma coisa por iniciativa própria, fosse proibido ou não. O fracasso não fazia parte do seu vocabulário. Você simplesmente fazia.
Com o tempo, você passou a encarar os problemas com o mesmo olhar dos seus pais, descobriu a existência da seletividade e da competitividade e passou a se comparar com os amigos de escola, de condomínio e de balada. Descobriu que ter coisas boas, de marca ou de grife, é bom, principalmente quando não precisa pagar por elas.
Aquela competitividade natural do ser humano ecoou em você a ponto de deixar seus pais malucos sobre como fazer para dar conta de todo aquele arsenal de coisas que você nem precisava tanto, mas deveria comprar para não ser hostilizado pelos colegas de escola, filhos dos vizinhos e primos ricos.
Ao mesmo tempo, sua criatividade desapareceu, não por completo, é óbvio, mas foi atrofiada diante da competitividade acirrada da qual você faz parte e que não dá tréguas. Em pouco tempo, você substituiu o rótulo do iniciador pelo rótulo de resistente e o medo passou a fazer parte do seu cotidiano.
Você já não põe mais o dedo na tomada, inadvertidamente, tampouco desmonta os eletrodomésticos de casa sem se dar conta de que alguém vai pegar no seu pé nem deita no chão para espernear, pois sabe que, por razões óbvias, isso pode se voltar contra você. Então, você apenas se submete e acompanha o fluxo da maré.
Além de tudo, para suprir a falta de iniciativa e a resistência natural da maioria das pessoas para as mudanças, o mundo inventou o YouTube, o Twitter, o Facebook, o Google e milhares de outras mídias para que você não tenha a menor preocupação com o futuro.
Com isso, você pode ficar conectado vinte e quatro horas por dia, sem se dar conta de que o tempo está passando, além de fugir da cobrança implacável dos pais e do mundo quanto ao futuro incerto que tem pela frente. A inércia dói menos do que o enfrentamento. De certa forma, ela resolve todos os seus problemas de emprego, de escola e posicionamento na sociedade.
O fato é que o mundo está mudando rápido demais e sem a chama da iniciativa, lamento dizer, não há outra escolha a não ser reagir às mudanças. Na prática, sem a capacidade de experimentar, de questionar, de instigar, você está simplesmente parado, à deriva, esperando ser levado pela corrente. Sem iniciativa, as maçãs continuarão caindo do céu, mas a única coisa que você poderá dizer é: só acontece comigo!
Onde foi parar a sua iniciativa? Por que você continua caminhando em círculos? O que você faz com aquele turbilhão de ideais que fluem todos os dias na sua mente? O que você vai fazer nos próximos cinquenta anos? Quantos milhares de vídeos você ainda precisa ver no YouTube antes de gravar a sua própria história?
A única saída é quebrar as regras ou reinventá-las. Tentar, tentar, tentar quantas vezes for necessário. Reconheço que é bem mais fácil deixar a vida nos levar, mas isso não muda o mundo. O que você está esperando? Que alguém lhe diga: vai, criatura, mexa-se? Quando você pode começar? Agora é melhor do que na segunda-feira, portanto, vejamos:
- Pare de andar em círculos: deixe de ser orgulhoso e compre um mapa. A iniciativa por si só não é suficiente. Planeje, escreva, inicie um blog, assuma uma causa, seja um experimentador por natureza. A vida é pura experimentação, dizia Emerson, o grande pensador norte-americano. Grandes empreendedores são vistos com muito interesse todos os dias porque não tem medo de iniciar nem de errar.
- Pense diferente: você já está de “saco cheio” de ficar ouvindo os nomes de Bill Gates, Steve Jobs, Larry Page, Mark Zuckerberg e tantos outros? A diferença entre você e eles não são os bilhões de dólares que acumularam. A diferença básica é, e sempre será, a chama da iniciativa e da realização.
- Um pouco de risco não faz mal a ninguém: o risco envolve ganhar e perder. Isso, para alguns, é ruim, pois representa uma enorme possibilidade de fracasso. São poucos os que colocam em jogo algo que pode valer a pena. A maioria das ideias fracassa, porém isso não significa que o seu projeto está condenado.
- A regra de outro da iniciativa: vender é difícil, escrever difícil, fazer a diferença é difícil. Digo isso por experiência própria, portanto, trabalhe regularmente, seja consistente. Não existe almoço grátis. Em caso de dúvida, procure o medo. Ele é, na maioria dos casos, a fonte da sua dúvida. A iniciativa é uma habilidade escassa, por isso é rara e tem valor.
Pense nisso e seja feliz!
Jerônimo Mendes, Administrador, Coach, Professor Universitário e Palestrante.
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