Antiga presença: Dona da marca Havaianas, uma referência da moda brasileira no mundo, entre
outras marcas, a Alpargatas comemora, hoje, nada menos que cem anos na Bolsa de Valores
de São Paulo – tempo de
existência considerado quase que um milagre da perpetuidade para qualquer
empresa. Grandes guerras, crises econômicas, crises de gestão e de consumo
foram alguns dos cenários enfrentados durante este período pela companhia de calçados, consagrada como uma das brasileiras
percursoras da difícil arte de tornar-se um negócio global. Conheça, a seguir,
um pouco mais da história da Alpargatas.
Começo de tudo
A história da
companhia começa em 3 de abril de 1907 com a vinda da Argentina
para o
Brasil do escocês Robert Fraser, investidor que se une a um grupo de
empresários, para a criação da Sociedade Anonyma Fábrica Brazileira de
Alpargatas e Calçados. A companhia, que depois passaria a se chamar São Paulo
Alpargatas, começou com uma fábrica na Mooca, zona leste da capital paulista,
para a produção de calçados para trabalhadores na colheita decafé. Hoje, a empresa é
controlada pela Camargo Corrêa, dona de pouco mais de 30% do capital votante.
Primeiros desafios
Em 1910, os calçados para lavouras de café impulsionam os negócios da
empresa, que acaba tendo de estrear na Bolsa de Valores, com a intenção de
captar mais recursos e investir na ampliação das operações. Porém, com a
Primeira Guerra Mundial, as dificuldades financeiras, falta de matéria-prima e
gripe espanhola, que deixa metade dos empregados da fábrica doentes, atrapalham
os negócios. No fim da década de 20, a crise econômica provocada pela
superprodução de café e pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York faz cessar
a produção das Alpargatas Roda, um dos calçados mais acessíveis e populares do
País.
Novas marcas
Enquanto muitas empresas fechavam suas portas, a companhia decide
investir
ainda mais nos negócios e retoma a fabricação da Alpargatas Roda. Passa
também a fornecer mochilas, barracas e fardas aos combatentes da Revolução de
1932. Depois de atravessar outro grande desafio, com a Segunda Guerra Mundial,
a companhia lança sua primeira calça jeans, a Rodeio. Na década de 50, os
modelos de tênis Conga e Bamba Basquete são lançados, assim como a lona
Sempreviva. Os lançamentos seguem com as calças de brim Far West, na década de
60, as botas de borracha Sete Léguas para trabalhadores da agricultura,
agropecuária e construção civil no ano seguinte e a Havaianas, um ano depois.
Não deformam
Criada em 1962, a
marca Havaianas foi, desde o começo, um sucesso de vendas
entre as pessoas que recorriam ao tal chinelo de dedo
para ficar em casa. As vendas perderam fôlego nos anos 80, mas foram relançadas
em 1994, com outro enfoque. Os produtos reapareceram com tons monocromáticos e,
três anos depois, em versões de uma infinidade de cores para deixar de ser
funcional e se tornar um acessório de moda. O marketing em cima das “únicas que
não deformam” ajudou bastante. Missão cumprida com sucesso dentro e fora do
país, onde o produto ganhou destaque a ponto de ser usado por celebridades de
todo mundo.
Em 2009, a marca ganha sua primeira loja conceito: o
Espaço Havaianas, na Rua Oscar Freire, badalado endereço da capital paulista.
Marcas esportivas
A empresa inaugura
fábricas de Norte a Sul do País e entra no segmento de artigos esportivos com o
lançamento da marca Topper e a compra da Rainha em 1979, no mercado brasileiro
desde 1934. Inaugura, anos depois, uma fábrica na Paraíba, e lança as sandálias
Samoa (descontinuada em 2003) e o jeans Top Plus. Além do relançamento da
Havaianas, a Alpargatas licencia, na década de 90, as marcas Timberland,
especializada em esportes de aventura, Mizuno, tênis voltado para adeptos do
atletismo, o calçado Kichute, e a Nike (cuja licença da marca ficou em seu
poder até 1994.
A reforma
A partir de 1998, a empresa interrompe
um longo processo de declínio iniciado nos
anos 80 e volta a
dar lucro. Mudanças de processos e cortes de custos e pessoas aconteceram
depois do resultado de uma análise dos donos da empresa com a consultoria
McKinsey e a implantação de um programa intitulado Avaliação do Valor de
Atividade – apelidado internamente de Adeus aos Velhos Amigos pelos
funcionários. Nesta etapa, o número de empregados foi reduzido de 14.500 para
10.500 e a empresa foi dividida, como hoje, em unidades de negócios.
Negócios globais
O sucesso da Havaianas, e a estabilidade do cenário mundial, abriu para
a Alpargatas a oportunidade de replicar o sucesso das vendas do produto de
dentro para fora do Brasil. Dentro da estratégia de virar global, a companhia
inaugurou, em 2007, um escritório em Nova York. Também adquiriu 60% da operação
na Argentina, além da pernambucana Dupé, assumindo a liderança do segmento de
sandálias no país. Em 2008, inaugura escritórios comerciais na Espanha e, no
ano seguinte, no Reino Unido, França e Itália.
Compra da Osklen
Em novembro de 2010, a empresa comprou 30% da brasileira Osklen, com opção para mais 30%. A
marca adquirida, já famosa internacionalmente, continuou sob a coordenação de
criação e estilo de seu fundador, Oskar Metsavaht, e a intenção era repetir com
a Osklen o sucesso mundial de Haiavanas.
Novo
posicionamento
Em 2009, a
Topper ganha um novo posicionamento. A ideia é fazer dela uma marca unissex,
voltada para vários esportes, como tênis e rugby. Mas também mantê-la no
promissor mercado de futebol, com o patrocínio dos clubes Atlético Mineiro, no
Brasil, o Estudiantes, na Argentina, além de craques brasileiros como os
goleiros Marcos, do Palmeiras, e Marcelo Lomba, do Flamengo. No ano seguinte,
passa a patrocinar a Seleção Brasileira de Rugby.
Mais mudanças
A empresa reforça o enfoque na comercialização de calçados e artigos
esportivos
e vende a operação Locomotiva e os respectivos ativos
do negócio. De São Paulo Alpargatas passa a se chamar Alpargatas e, seguindo o
caminho da globalização, transfere sua sede e rejuvenesce a imagem
institucional. Em 2011, a Alpargatas detém 91,5% do capital das operações na
Argentina e vira líder do mercado de calçados na América Latina. Para analistas
de mercado, a compra da Osklen é só o começo do quanto a empresa ainda pretende
investir lá fora.